A digitalização no canteiro de obras é uma tendência inevitável pelos indiscutíveis ganhos de eficiência e produtividade que agrega à construção civil. Mas também é verdade que a inovação tecnológica anda a passos lentos nessa indústria.

Quando houve a virada do século, apontando para uma nova revolução tecnológica no mundo, esperava-se uma resposta mais rápida das construtoras no sentido da sua modernização. Isso vem acontecendo, realmente, nas grandes empresas. Porém, ainda é uma realidade distante na maioria das médias e pequenas construtoras.

Como um setor de uso intensivo de mão de obra, que lidera a geração de empregos, a incorporação de novas tecnologias não é uma prioridade para seus empreendedores.

A digitalização, além disso, implica numa mudança de métodos e processos que estão arraigados há muito tempo nas organizações e que aparentemente funcionam bem. Só aparentemente.

Digitalização significa, portanto, uma forte mudança cultural nas empresas, do topo da cadeia de comando até a o chão de fábrica, e por isso ainda enfrenta bastante resistência.

Muitas vezes, isso ocorre por desconhecimento das ferramentas da Indústria 4.0 e suas vantagens, ou por acreditarem que seus custos não compensam o investimento. Tudo isso é um tremendo engano.

Você vai ver, a seguir, o que pode oferecer a digitalização no canteiro de obras em termos de rapidez, qualidade, redução de custos e ganhos de produtividade. Verá ainda que ela já é uma necessidade tão importante para as construções quanto o tijolo e o cimento.

 

Vantagens da digitalização no canteiro de obras

O Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequena Empresa (Sebrae) tem sido muito veemente com os empreendedores ao recomendar que modernizem suas obras com novas tecnologias. Entre seus efeitos práticos, as inovações disponíveis no mercado proporcionam:

  • Redução do tempo construtivo: a tecnologia reduz o atraso em obras, um dos principais problemas do setor.
  • Padronização das atividades: a equipe trabalha de maneira mais colaborativa e usando materiais que respeitam critérios de qualidade.
  • Redução de desperdícios de materiais: maior controle sobre o estoque significa menos gastos com produtos desnecessários ou fora do padrão.
  • Diminuição de retrabalhos: produtos de qualidade e funcionários bem preparados cometem menos erros.

A digitalização traz impactos diretos e indiretos sobre a produtividade

 

A digitalização também traz impactos diretos e indiretos sobre outros fatores que aumentam a produtividade no canteiro de obras, tais como:

  1. Capacitação e treinamento da mão de obra: a inovação exige a qualificação dos trabalhadores, o que resulta em trabalho bem-feito, com menos desperdícios, menos retrabalho e cumprimento dos prazos de conclusão dos serviços.
  2. Controle da matéria-prima: o controle mais eficiente sobre o uso de material evita a perda de tempo com produtos de qualidade inferior. Também se evita a espera da recomposição dos estoques do que já foi utilizado.
  3. Layout mais adequado dos canteiros de obras: o espaço de trabalho passa a ser melhor planejado, facilitando e agilizando a circulação de trabalhadores e máquinas. Além de oferecer local adequado para o armazenamento dos materiais.
  4. Maior segurança do trabalho: são evidentes os ganhos nessa área também e uma empresa com trabalho seguro tem menos prejuízos com funcionários afastados por algum infortúnio na obra.
  5. Melhor planejamento e controle de obras: obras bem planejadas, com soluções avançadas, não passam por problemas como falta ou desperdício de materiais, atrasos ou erros que comprometam os trabalhos.

Certo, você deve estar pensando, mas e como se incorpora a digitalização no canteiro de obras e o que mais ela proporciona?

 

Digitalização na pandemia

Já entrando na terceira década deste século, não há sombra de dúvida de que as obras estão se tornando muito mais complexas.

São diversos os motivos, entre eles, as exigências cada vez maiores de responsabilidade ambiental, bem como as mudanças climáticas, que afetam materiais, projetos e condições de trabalho. Além de consumidores mais conscientes dos seus direitos e o absurdo incremento de preços dos insumos, entre outros.

Tudo isso exige uma indústria mais ágil. Ou seja, capaz de entregar obras de qualidade com maior eficiência e redução de custos.

 

2020 acelerou o processo de digitalização no Brasil

 

Os aparelhos digitais dão uma enorme contribuição neste sentido, pois o uso de smartphones, notebooks, tablets, drones e outras soluções permite organizar e transmitir facilmente todas as informações referentes às obras.

A conferência, edição e transmissão dos dados é feita de maneira mais prática e em qualquer lugar, o que torna o trabalho bem menos burocrático e muito mais rápido.

Neste sentido, a presidente da Comissão de Responsabilidade Social (CRS) da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Ana Claudia Gomes, diz que 2020 acelerou o processo de digitalização no país.

Isso aconteceu também na construção civil, pois para enfrentar as restrições impostas pela pandemia da Covid-19 as empresas tiveram que buscar o auxílio de soluções digitais. Assim, ficam menos sujeitas aos sobressaltos da economia e mais resilientes a eventos imprevistos como esse.

“O processo de digitalização já vinha acontecendo nos diversos segmentos da economia, mas em 2020 se acelerou todo esse processo e na nossa indústria não foi diferente. É extremamente importante que nossa indústria se atualize, reveja suas formas de trabalho, os seus processos, e acompanhe todas essas mudanças e transformações”, disse Ana Claudia.

Já os engenheiros civis Eduardo Tassi Damião e Solon da Costa Filho, do Grupo CBIC Jovem, que realiza uma pesquisa sobre o tema, ressaltam que a digitalização pode ajudar a resolver um dos principais gargalos do setor: o aumento da produtividade.

Isso acontece, segundo eles, porque os meios digitais facilitam a gestão de projetos, o controle de custos e prazos, evitando desperdícios e automatizam os processos de uma maneira geral.

 

Indústria 4.0: onda de transformação digital

Segundo um estudo da British Standars Institution (BSI), a Indústria 4.0, que marca a quarta revolução industrial, provocou uma onda de transformação digital, que se desenvolve a partir da convergência de nove tecnologias principais:

  1. IoT  ou Internet das Coisas
  2. Big Data
  3. Manufatura Aditivada (base da impressão 3D)
  4. Automação
  5. Computação em nuvem
  6. Inteligência artificial
  7. Dispositivos utilizáveis (wearables)
  8. BIM
  9. Robótica

Digitalização: sistema de gestão

O fluxo de informações é um elemento-chave para que as obras transcorram conforme seu planejamento, evitando as falhas que abalam prazos e resultados.

Neste aspecto, um sistema de gestão digitalizado serve para substituir as antigas planilhas e as pilhas de papéis para preencher. Ele agiliza a transmissão de dados e coloca todos os setores em sintonia, da administração ao local de produção.

 

um sistema de gestão digitalizado serve para substituir as antigas planilhas e as pilhas de papéis para preencher

 

Sempre que ocorrer alguma novidade importante, como uma alteração de projeto, uma troca de material ou um equipamento novo que é incorporado à obra, esse dado é lançado no sistema pelo setor responsável.

Na mesma hora, a informação é replicada nas demais áreas e se torna acessível a qualquer um dos interessados, bastando ter à mão um smartphone ou tablet.

Da forma tradicional, uma informação dessas pode demorar para chegar de uma ponta a outra do processo, pode chegar com ruído ou mesmo nunca chegar. Daí as consequências que são bem conhecidas: os transtornos, desperdícios e inevitáveis prejuízos.

Já com os sistemas digitalizados, as informações são compartilhadas entre todos com agilidade, sem maiores erros, distorções ou redundâncias, para tomadas de decisão mais seguras.

 

Digitalização no canteiro de obras: controle de materiais

Com sistemas digitais no lugar da papelada, o controle de entrada e saída de materiais alcança outra escala de eficiência, vários degraus acima em termos de praticidade.

Tudo se torna automatizado, com sistemas de alerta para os gestores sobre quantias, tipos, datas de compra e de entrega e outras informações relevantes, para tocar o trabalho sem sustos.

 

Digitalização: acesso de pessoas

Uma tecnologia que muitas empresas descobriram nessa pandemia foi a catraca inteligente, que substitui a anotação em fichas de quem entra e sai dos canteiros de obras.

Já existem soluções que fazem a liberação muito mais rápida da entrada, sem a burocracia que só serve para  causar perda de tempo e aumentar as pilhas de papéis sem utilidade prática.

Há também tablets com softwares que fazem reconhecimento facial e medem a temperatura.

Essas novidades, ainda por cima, fornecem dados de estatísticas de presenças, ausências, horários de maior ou menor movimento, para quais setores e quais tarefas as pessoas chegam, entre outras informações importantes para a organização dos locais de trabalho.

Digitalização: locais de trabalho conectados

Especialistas da Deloitte explicam também que ferramentas de construção digital, como o rastreamento de ativos e passivos, relógios de ponto conectados, visão computacional, realidade aumentada, realidade virtual e análise de dados em tempo real, permitem às empresas operar de forma inteligente locais de trabalho conectados.

Isso possibilita vincular ativos, fornecedores e serviços contratados, automatizar processos, sincronizar equipamentos, mão-de-obra e cadeias de suprimentos.

Entre outras coisas, as construções conectadas por meios digitais podem reduzir o tempo de inatividade por meio do monitoramento proativo dos ativos. Otimizam ainda a utilização e eficiência de ativos, mantém os projetos dentro do prazo e do orçamento, protegem os ativos e melhoram a qualidade geral das obras.

Essas são muitas das vantagens da digitalização no canteiro de obras, mas ainda não são todas. É uma amostra suficiente, eu espero, para que você pense seriamente na possibilidade de avançar em termos de inovação tecnológica nos seus empreendimentos.

Certamente, seus ganhos de produtividade e lucratividade serão compensadores, como tem sido para inúmeras companhias que já seguiram essa tendência

[ Fonte: sienge.com.br ]