Entenda como evitar contratempos na locação ou compra de escoramentos metálicos e saiba por que as novas tecnologias têm demorado a se disseminar

Por Gisele C. Cichinelli

Revista Construção Mercado – PINI – Edição 146 – Setembro/2013

Perdas e avarias de equipamentos em obras ainda são um dos maiores problemas envolvendo escoramentos metálicos. De acordo com fabricantes e construtores, os valores dos contratos podem aumentar em até 10% por conta de indenizações das peças. Para minimizar essas ocorrências, as empresas têm investido pesado em treinamentos de gestão e na fiscalização desses equipamentos nas obras.

Mas o uso de tecnologias novas que dispensam cálculos complexos e simplificam as etapas de montagem e desmontagem – como os sistemas do tipo mesas voadoras e o deck (com painéis com cabeçais descendentes, os chamados drop-head) – também é apontado por especialistas como uma das maneiras de evitar custos adicionais com a reposição de peças ao final do serviço.

“Uma das maneiras de mitigar problemas desse tipo é justamente simplificar essa etapa. E esses (não tão) novos sistemas garantem uma execução correta do escoramento metálico”, observa Maria Alice Moreira, diretora comercial da área de negócio da Jahu (Mills), lembrando que a mesa voadora já está presente no Brasil desde a década de 1980. “O sistema deck consiste basicamente em dois itens: um painel e uma escora, com cabeçal já parafusado a ela. Não tem o que calcular, não tem o que perder com esse sistema. Já as mesas voadoras são montadas uma vez na obra por um montador e são levadas para os pavimentos de acordo com a necessidade”, conta.

Condições e custos
O mercado de escoramentos metálicos já oferece essas soluções para todo território nacional. Mas a adesão a essas tecnologias ainda é lenta, pois exigem adaptações das construtoras. O sistema de mesas voadoras, por exemplo, é indicado para estruturas de concreto com muitas repetições (verticais ou horizontais), com grandes lajes planas (que podem ser tanto maciças quanto nervuradas, mas, preferencialmente, protendidas) e ainda sem interferências de vigas internas e de vigas de borda. Vale lembrar que sua especificação exige integração entre o calculista estrutural, a construtora que vai executar a estrutura e o fornecedor do sistema de escoramento. Outro ponto importante a ser observado é a exigência de gruas com capacidades de carga para transportá-la, bem como a existência de condições propícias para o voo das mesas em todas as direções da obra.

ENTREVISTA – EDMILSON SILVA

Cuidados no reescoramento

Quais são os problemas mais comuns envolvendo projetos de reescoras?
Obter dos clientes os dados corretos sobre os coeficientes de cargas, sobretudo em projetos de reformas e restaurações de antigas estruturas. Essas informações nem sempre chegam de modo completo às mãos dos fabricantes, o que dificulta o desenvolvimento do projeto. Nas obras novas, geralmente, os cálculos estão disponíveis, diminuindo problemas com o projeto de reescoramento.

Falta atenção à etapa das reescoras nos projetos de escoramento metálico?
Sim. Em São Paulo, por exemplo, o ciclo da execução dessa etapa da obra é de quatro lajes por mês. Os escoramentos precisam ser reaproveitados dentro desse ciclo. Por isso precisa-se reescorar as estruturas (a partir do terceiro ou quarto dia da concretagem das fôrmas), até que a laje esteja autoportante. É preciso haver uma parceria afinada entre o fornecedor e o cliente, pois temos de discutir em conjunto qual é o ciclo evolutivo da obra, quantas lajes serão executadas por mês, quantos jogos de reescoras serão necessários, dentre outras informações. Às vezes, o fornecedor tem dificuldade em obter essas informações e os projetos não ficam tão detalhados.

Quanto representa o valor da reescora no custo total do escoramento?
O reescoramento custa, em média, 30% do valor do escoramento. Também representa igualmente 30% do número de peças destinadas à execução de todo o serviço.

E quanto à execução do reescoramento, quais são os principais erros cometidos em canteiros?
Um dos erros mais comuns é colocar as reescoras de modo diagonal, em vez de colocá-las corretamente, na posição vertical. Nesse caso, a peça deixará de absorver a carga de maneira correta. Por conta de cronogramas apertados, os funcionários também deixam de instalar essas peças com os espaçamentos corretos indicados pelo projeto.

Esses erros são frequentes?
Já foram mais comuns. Felizmente, hoje todos os fornecedores de escoramento têm noção da sua responsabilidade com relação ao serviço que oferecem. Muitos oferecem, inclusive, a presença de assistentes técnicos em obra para orientar nas etapas de montagem, tanto das escoras quanto das reescoras.

Divulgação: Alec

‘O reescoramento custa, em média, 30% do valor do escoramento’
Edmilson Silva, diretor de fabricantes da Associação Brasileira das Empresas Locadoras de Bens Móveis (Alec)

De acordo com Martin Sola, vice-presidente da Associação Brasileira das Empresas de Fôrmas e Escoramentos (Abrasfe), em termos de custos, o uso dessa solução é viável em obras com muitas reutilizações. “Para sete ou oito usos, não compensa usar mesas voadoras, pois há um tempo e custo de pré-montagem e desmontagem desses equipamentos”, explica.

Seja qual for a solução a ser adotada, a análise do custo do sistema de escoramento metálico deve levar em conta a mão de obra envolvida, produtividade alcançada, possíveis patologias e a garantia de manutenção do sistema. “Se levássemos em conta todos esses dados, e não apenas o preço do equipamento, acredito que não usaríamos mais as tecnologias que ainda são usadas no Brasil. Temos muito a avançar no uso de novos equipamentos”, acredita Maria Alice.

Projeto e contratação
O dimensionamento correto dos escoramentos metálicos deve observar as características mecânicas dos materiais (aço e alumínio). Caso seja executado diretamente sobre o solo, sem piso concretado, o projeto deve considerar a sua resistência, aumentando o número de escoras de modo a distribuir melhor o peso da estrutura sobre elas. O tipo de fôrma e de concreto a serem usados também impacta diretamente nos espaçamentos das escoras. Chapas de madeira suportadas por escoramentos metálicos devem ser corretamente escoradas para não deformarem, evitando prejuízo à execução correta da estrutura. Concretagem muito rápida e o uso de concretos fluidos podem causar maior pressão nas fôrmas, indicando, em geral, a necessidade de espaçamentos menores entre as escoras.

Na hora de contratar o serviço, o contratante tem de verificar a existência de profissional qualificado para fazer o projeto e para acompanhar a montagem, a qualidade dos componentes ofertados e a facilidade de montagem e desmontagem dos escoramentos. Sheyla Mara Baptista Serra, professora do programa de pós- -graduação em estruturas e construção civil da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), alerta que a previsão das “tiras” de reescoras, principalmente para lajes maciças, também deve constar no projeto. “Os prazos estabelecidos pelos calculistas para retirada do reescoramento devem ser seguidos à risca.”

Mesa-redonda

Foto: Marcelo Scandaroli Foto: Marcelo Scandaroli Foto: Marcelo Scandaroli Foto: Marcelo Scandaroli Foto: Marcelo Scandaroli
Ludwig Rolf Koether,engenheiro da Toledo Ferrari André Tuma, gerente comercial da Peri Martin Sola, vice-presidente da Associação Brasileira das Empresas de Fôrmas e Escoramentos (Abrasfe) Nilton Nazar, projetista e diretor da Hold Engenharia Maria Alice Moreira,diretora comercial da área de negócio da Jahu (Mills)
Foto: Marcelo Scandaroli Foto: Marcelo Scandaroli Foto: Marcelo Scandaroli Foto: Marcelo Scandaroli Foto: Marcelo Scandaroli
Dario Gabos, gerente técnico da TRC Metalvarios Renato Caetano, gerente da Mecan Fabio Pissinati, gerente comercial da Metax Fernando Rodrigues dos Santos, diretor técnico da Ulma Marcelo Carvalho Ribeiro, supervisor de contrato da SH Fôrmas

Como o setor tem vivenciado o atual momento de desaceleração da construção civil?
MARIA ALICE MOREIRA – Comparado aos anos de 2010 e 2011 houve, de fato, um esfriamento do mercado. Porém, o atual momento nem se compara às crises das décadas de 1980 e 1990, quando rodávamos o País inteiro atrás de obras sem encontrá-las. Empresas de grande porte jamais sairiam da Europa para vir para cá se o País não estivesse bem. Podemos não estar no auge, mas o cenário ainda é muito bom. E vale lembrar que, tanto nos grandes centros como nas cidades pequenas do interior do País, percebe-se que já há o conhecimento e a vontade de usar tecnologias construtivas mais modernas.
NILTON NAZAR – Não há pesquisas com dados concretos sobre a situação do mercado atualmente. O que temos é um sentimento a respeito do que está acontecendo. Evidentemente, estamos longe do cenário da década de 1990, mas há sinais claros de um esfriamento.

Quanto representa os escoramentos metálicos no mercado global de escoramentos? A madeira ainda é predominante?
FABIO PISSINATI  Ainda se usa muita madeira para fazer o travamento das fôrmas, mas os produtos metálicos estão muito difundidos nas obras.
DARIO GABOS  Em geral, a madeira é mais usada quando os ciclos de execução das lajes são muito extensos e o aluguel das fôrmas e escoramentos metálicos acaba saindo muito caro.
RENATO CAETANO  Hoje, podemos falar que 30% das obras usam a madeira, sobretudo em regiões onde a logística para o transporte dos escoramentos metálicos é difícil ou onde a madeira tem um custo muito baixo, como no Estado do Pará, por exemplo.
NAZAR – A locação, principalmente do equipamento metálico, está relacionada com o seu tempo de uso na obra. De um modo geral, em edificações de até dez pavimentos os custos dos escoramentos de madeira e metálico costuma empatar. Acima de dez pavimentos, o garfo de madeira tem ficado mais barato. Por isso, muitas empresas ainda usam a madeira na execução das escoras.

Segundo dados do setor, o segmento de infraestrutura deve segurar mais o PIB da construção do que o segmento de edificações nos próximos anos. Como esse cenário está impactando a demanda de escoramentos metálicos nesses segmentos?
GABOS  Para a nossa empresa, o crescimento do setor de infraestrutura tem sido ótimo. As grandes foram atender esse segmento e ficamos livres para atender a uma fatia maior do setor de edificações. Esperamos que esse cenário se mantenha por muito tempo.

Como está dividido o mercado de compra e locação?
MARIA ALICE – A nossa percepção é que as obras mais longas estão optando pela compra dos escoramentos metálicos e não pelo uso da madeira.
CAETANO  Algumas construtoras voltaram a investir nos escoramentos metálicos. Mas os investimentos maiores nem sempre estão concentrados nas estruturas principais. Existem dois tipos de escoramentos: os mistos, que são levados de pavimento a pavimento no decorrer da obra, e o sistema de reescoramentos das lajes. As empresas estão optando por comprar o sistema de reescoramento, que fica dentro da obra por um período maior e não tem ciclo de giro. Mas boa parte do mercado está focada em locação, já que ter o equipamento na obra cria a necessidade de liberar espaço para armazená-los e de fazer sua manutenção, gerando custos adicionais à construtora.
GABOS  A locação ainda abocanha 80% do mercado. Os escoramentos são muito específicos e variam de obra para obra, de laje a laje. O que não acontece com as reescoras. Por isso, a opção de comprá-las é mais viável. Não vejo muitos motivos para uma empresa comprar escoras.
LUDWIG ROLF KOETHER  Costumamos alugar, pois a compra criaria um problema extra de armazenagem e manutenção dos itens. A compra só vale a pena quando a construtora tem um volume de obras muito grande na mesma fase. Atualmente, temos 20 torres em execução e mesmo assim o investimento na compra do equipamento não valeria a pena. Caso adquiríssemos os escoramentos metálicos, teríamos de nos preocupar com espaço, pessoal qualificado e com frete.
GABOS – E com projetistas, porque cada projeto é diferente. As empresas de aluguel fornecem os projetos.

A devolução das peças ainda é um ponto que gera muito conflito na relação entre o fornecedor e a construtora. O que pode ser feito para minimizar esses problemas?
CAETANO  Há uma preocupação das empresas de locação em informar ao cliente como fazer a gestão e fiscalização do equipamento em obra. Disponibilizamos treinamentos para isso, porque não temos interesse em ganhar com indenizações e sim em disponibilizar nosso serviço de aluguel. Nosso intuito é treinar a colaboraração do cliente para minimizar o impacto das indenizações, de modo a não criar traumas no cliente quanto a essa modalidade de aquisição.
MARTIN SOLA  Esse é um ponto convergente na Abrasfe. Em cada seminário feito sempre trazemos um tópico sobre cuidados referentes aos materiais. Há um mito de que as empresas fazem negócio com as indenizações e isso não é verdade. Quem está com a posse do material são as construtoras. Apenas queremos que sejam devolvidos em condições adequadas para darmos continuidade ao nosso negócio.

Esses treinamentos têm alcançado resultados efetivos?
MARIA ALICE  Temos muitos casos de indenização zero. Indenização gera dor para os dois lados: para o cliente, que gasta, e para empresa, que nunca recebe o que é devido, sob pena de perdermos o cliente. Infelizmente, os escoramentos metálicos não podem ser assegurados, já que não são rastreáveis e não possuem códigos de barra.
MARCELO CARVALHO RIBEIRO  Quando a mão de obra é da própria construtora, os danos são minimizados. Mas quando é terceirizada, os empreiteiros não costumam tomar muito cuidado com os equipamentos.

O que deve ser assegurado em contrato para evitar problemas dessa natureza?
GABOS  A construtora deve pedir um conferente em obra para checar a retirada e o retorno das peças, e conferir se elas estão presentes e em boas condições.
MARIA ALICE – No encerramento do contrato, o valor da indenização é dividido em três partes: material danificado, material inutilizado e material faltante. Seja qual for o valor, 10% se referem às peças danificadas (desempeno, limpeza, troca de compensado etc.), que nem são cobradas pelas empresas. Já as peças inutilizadas praticamente não existem, pois os próprios operários somem com o material para não se comprometer. A maior parte das indenizações, portanto, se refere ao material faltante.
KOETHER  O grande problema é a mão de obra, que não toma cuidado com o material. Costumamos comprar as porcas de barra de ancoragem e os tensores. Já sabemos que, se alugarmos, essas peças não voltarão para o fornecedor.

A construtora tem uma estimativa de quanto as indenizações representam no custo do aluguel?
KOETHER  Cerca de 10% a 15%, um valor considerável.
NAZAR  A gestão da mão de obra é de responsabilidade do construtor, cabe ressaltar. Muitas vezes o treinamento é falho ou a empreitada de mão de obra é mal contratada. Os engenheiros não se envolvem com o processo das fôrmas, que foi repassado para encarregados e estagiários. Sempre que o engenheiro e o mestre de obras estão envolvidos, esses problemas são minimizados.
SOLA  Cabe ressaltar que a construtora que compra o escoramento metálico também sabe cuidar dele melhor, pois é de seu interesse.

O uso das mesas voadoras e do sistema deck, considerados as tecnologias mais avançadas no segmento, está crescendo ou se mantém estável nos últimos dois anos?
MARIA ALICE  O uso desses equipamentos ainda está muito aquém do seu potencial. Usamos muito as mesas na década de 1980, mas seu uso recuou.
ANDRÉ TUMA  Estamos percebendo que as construtoras estão começando a pensar nos escoramentos com antecedência, o que favorece o uso dessas tecnologias novas.
FERNANDO RODRIGUES DOS SANTOS – Fernando Rodrigues dos Santos – Há muitas construtoras interessadas no uso dessas tecnologias, buscando maior segurança e produtividade para suas obras. Mas o seu uso está condicionado a um projeto estrutural propício, com lajes planas e protendidas, e com condições de canteiro próprias. A obra precisa contar com gruas com capacidade e alocadas em posições estratégicas de modo a permitir o voo das mesas, por exemplo.