“Quem já ouviu dizer que mulher é sexo frágil? E quem já ouviu dizer que homem nasce pedreiro? Para mim, ninguém disse.” A frase é da gaúcha Bia Kern, fundadora, mentora e presidente da ONG Mulher em Construção. Ela fez essa reflexão em uma conferência do TED Talks, “Construção civil e (re)construção da mulher”, que você pode assistir na íntegra aqui.

A Bia contou como as obras em casa e os trabalhos manuais fizeram parte da vida dela desde cedo. Por meio da ONG, ela já capacitou milhares de mulheres para o trabalho em diversas áreas da construção civil. E elas não estão sozinhas!

Dados do Ministério do Trabalho, ano base de 2020, apontam que 216,3 mil postos com carteira assinada são ocupados por mulheres na construção civil. Um número ainda modesto, é verdade, mas que representa um aumento de 5,5% em relação ao ano anterior.

O IBGE também constatou uma expansão de 120% da presença feminina neste segmento entre 2007 e 2018. Ou seja, o espaço das mulheres na construção civil não para de crescer. Acompanhe este artigo até o final para entender o que está por trás desse movimento, seus desafios e como ele impulsiona o avanço da indústria da construção no país.

Presença feminina cresce, mas (ainda) não vence o preconceito

Algumas respostas para o aumento da participação das mulheres nos canteiros de obras estão no estudo “Engenharia, trabalho e relações de gênero na construção de habitações“, lançado pela Fundação Carlos Chagas em 2019.

A pesquisa indica que o convívio entre os dois sexos na construção de edificações teria se intensificado a partir de 2005, com o início do período de maior crescimento da construção civil. Uma conclusão é de que a mudança de cenário pode ter sido favorecida pela percepção de que as condições de trabalho já não são tão duras nos canteiros.

O estudo confirma que não faltam estudantes e profissionais diplomadas dispostas a percorrer todas as etapas necessárias para se legitimarem como engenheiras, arquitetas e técnicas de segurança, por exemplo.

Por outro lado, a mesma pesquisa também confirma a resistência à aceitação da autoridade técnica e da posição hierárquica das mulheres por parte dos mestres, encarregados e demais operações. Abaixo, o resumo de alguns achados do levantamento:

Maior participação femininas dos canteiros de obras

  • Aumento da demanda por mão de obra qualificada
  • Processo de reorganização da produção e do trabalho em curso no setor
  • Introdução de inovações tecnológicas
  • Avanço da informatização
  • Maior segurança nos canteiros de obras

Maiores desafios das mulheres

  • Necessidade de “ser firme” e “se impor”
  • Necessidade de não demonstrar fraqueza nunca
  • Necessidade continuada de provar competência profissional

Notou como ainda permanece o estereótipo depreciativo sobre a habilidade da mulher em comandar equipes masculinas? A pesquisa completa pode ser acessada aqui.

Igualdade x Equidade

Entender os conceitos de igualdade e equidade é fundamental para assimilar os desafios das mulheres na construção civil. Enquanto a igualdade presume que todos sejam tratados da mesma forma (independentemente de suas necessidades), a equidade trata as pessoas de formas diferentes, considerando o que elas precisam!

E o que isso tem a ver com a construção civil? Neste vídeo, a Elisa Tawil, do Movimento Mulheres do Imobiliário, destaca que as mulheres partem de um ponto de largada muito distante dos homens neste mercado. Assim, esta condição pede uma atenção à equidade.

Ela lembra, por exemplo, que até algumas décadas atrás as mulheres sequer podiam ser corretoras de imóveis. O vídeo também tem todos os dados da pesquisa exclusiva “O Lado Feminino do Mercado Imobiliário”, lançada em 2021. Alguns destaques:

  • 93% das mulheres acreditam que estão conquistando espaços significativos no mercado imobiliário
  • 61% das mulheres acreditam que não têm as mesmas oportunidades dos homens no ambiente de trabalho
  • 61% das mulheres consideram que são interrompidas e desconsideradas nas tomadas de decisão no dia a dia

Participação das mulheres na construção é essencial ao negócio

Mais do que uma questão de inclusão, a participação feminina em posições de liderança na indústria da construção é essencial ao negócio. Isso se comprova nos números da pesquisa “A Busca pelo Imóvel, uma Questão de Gênero?“, também liderada pelas Mulheres do Imobiliário.

Entre outros dados, o levantamento mostra que as mulheres dependem menos da ajuda de seus companheiros(as) na hora de buscar e decidir sobre o imóvel comprado. Os números também apontam que a proporção de mulheres que decidiram sobre seu imóvel sem nenhuma influência dos cônjuges é quase duas vezes maior que a verificada em relação aos homens.

E o número de mulheres que relataram não terem qualquer ajuda dos companheiros(as) é o dobro se comparado aos homens.

Por isso, o estudo conclui que mulheres já estão bastante empoderadas nas suas decisões de compras de imóveis. E mais: reforça a importância de uma comunicação e liderança do setor da construção mais atenta a esse público.

Influência na decisão de compra

  • 21,1% das mulheres relataram que decidiram sobre o imóvel sem nenhuma influência de seus cônjuges
  • 12,4% dos homens fizeram essa afirmação
  • 15% das mulheres relataram que os companheiros não ajudaram em nada no processo de escolha
  • 6,8% dos homens fizeram essa afirmação
  • 49,6% das mulheres relataram que a maior influência na hora de concluir a compra partiu de cônjuges e companheiros
  • 62,1% dos homens fizeram essa afirmação

Quer saber mais sobre a pesquisa? Esses e outros dados estão todos aqui.

Legislativo discute reserva de vagas para mulheres na construção

Você sabia que a Câmara dos Deputados atualmente analisa a instituição de uma cota de 5% dos postos de trabalho na construção civil para mulheres? Trata-se do PL 5358/20, que em agosto de 2021 foi aprovado pela Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher.

Uma das justificativas do projeto é de que as tecnologias disponíveis nos canteiros dispensam a força física como principal atributo, deixando de ser critério decisivo na hora da contratação.

É importante lembrar que o texto ainda segue em tramitação e tem despertado manifestações favoráveis e contrárias no Congresso. E você, o que acha da proposta?

[via www.sienge.com.br]