A necessidade da construção de habitações econômicas se faz cada vez mais necessária. Um problema tão antigo quanto grave, o déficit habitacional brasileiro atingiu, em 2019, a marca de 7,79 milhões de moradias, segundo pesquisa divulgada da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc). Isso significa que precisariam ser construídas mais de 30 milhões de residências até 2030, considerando o crescimento médio de 3% na formação de novas famílias. A demanda é por quase 15 milhões de habitações entre as famílias com faixa de renda entre 3 e 10 salários mínimos.

Viabilização de habitações econômicas

Para viabilizar a construção de tantas moradias com qualidade, segurança e custo competitivo, há algumas soluções, desde as mais tradicionais, como a alvenaria estrutural, às mais industrializadas. Todos elas devem atender às exigências da Norma de Desempenho (ABNT NBR 15.575), que estabelece requisitos e critérios para edificações habitacionais.

“Há mercado para todas as configurações de sistemas, desde que se especifique materiais adequados e busque informações sobre desempenho”, salienta a engenheira Luciana Oliveira, pesquisadora do Laboratório de Componentes e Sistemas Construtivos do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo).

Ela explica que os sistemas mais industrializados têm potencial para induzir maior produtividade e racionalidade na obra. Mas para que essas vantagens sejam efetivas, os projetos precisam contemplar e desenvolver diversos detalhes construtivos específicos. “Também é preciso identificar fornecedores de materiais e componentes adequados para aquele sistema para as etapas de construção e de manutenção”, diz Oliveira. Segundo ela, industrializar não significa somente adotar tecnologias novas, mas uma maior integração entre as diversas disciplinas de projeto, planejamento, gestão da obra e da manutenção.

 

Quatro alternativas construtivas para a construção de habitações econômicas

Wood frame off site — Aplicável para a construção de residências unifamiliares e edifícios com até cinco pavimentos, essa tecnologia se baseia no uso de frames de madeira extraída de florestas plantadas e submetida a tratamentos químicos e em autoclave. A estrutura é composta por perfis de madeira combinados a placas de OSB sobre as quais são inseridas barreira impermeável, placa cimentícia e acabamento. Os quadros são pré-montados em pátios fabris e chegam ao canteiro com as instalações e janelas embutidas. Uma vez no canteiro, os painéis são içados e montados com um índice de produtividade em torno de 3 m²/homem hora. Uma das maiores construtoras e incorporadoras do Brasil, a Tenda, aposta nesse sistema para produção de habitações dentro do Programa Casa Verde e Amarela (PCVA), o antigo Minha Casa Minha Vida.

Light steel framing — Muito utilizado em países do hemisfério norte, esse sistema construtivo é composto por perfis leves de aço galvanizado que podem ser fechados por placas cimentícias e por painéis de OSB. Pode ser aproveitado em diferentes tipologias de edificações e tem como pontos fortes sustentabilidade (já que o aço é 100% reciclável), agilidade de execução, precisão e possibilidade de modular o conforto térmico e acústico de acordo com a necessidade do projeto. Por ser um sistema industrializado, requer projetos detalhados e um estudo de viabilidade global de custos, que considere, por exemplo, economias proporcionadas pela redução do custo de fundação.

Paredes de concreto — Amplamente utilizado na construção em habitações populares nos últimos anos, esse sistema se caracteriza por ter a estrutura e a vedação formadas por um único elemento: a parede de concreto moldada in loco. Nela podem também ser incorporadas, parcialmente, instalações e esquadrias. As paredes de concreto possuem normalização específica (ABNT NBR 16.055:2012) e permitem construir uma casa em dois ou três dias. No entanto, são indicadas para produção de casas em larga escala, uma vez que exigem do construtor um investimento elevado em fôrmas. O sistema também pode impor um desafio que é atender a Norma de Desempenho em diferentes regiões do país, em função das particularidades climáticas de cada localidade.

Alvenaria estrutural — Muito tradicional para a construção de moradias populares, a alvenaria estrutural é um processo construtivo no qual a estrutura e a vedação do edifício são executadas simultaneamente. O sistema dispensa o uso de pilares e vigas, ficando a cargo dos blocos estruturais a função portante da estrutura. De execução simplificada, o sistema possui normas técnicas para projeto, materiais e execução. Em contrapartida, apresenta índice de produtividade inferior aos sistemas industrializados.

[via https://www.aecweb.com.br/]