Demanda morna
Procura por balancins elétricos ainda é fraca no Brasil devido ao custo e às quebras causadas por mau uso; veja as principais orientações de montagem e operação

Por Maryana Giribola

A demanda por balancins elétricos tem evoluído a passos lentos no Brasil. Segundo Fábio Luis Garbossa Francisco, diretor técnico da BKO Incorporadora e Construtora, atualmente poucos fornecedores trabalham com esse tipo de equipamento, o que faz com que os preços sejam altos e a demanda, baixa. “O ideal seria que os balancins elétricos entrassem no mercado como os leves entraram. Há pouco tempo, os modelos mecânicos também eram caros, mas a oferta era grande. Por isso hoje eles têm preços mais acessíveis”, comenta.

No segmento residencial, principalmente, os modelos mecânicos ainda são mais demandados que os elétricos. Fábio Francisco explica que para viabilizar o elétrico, seria necessário compensar os custos mais altos do equipamento com a redução do custo de mão de obra. Porém, como os serviços em fachada geralmente são feitos por empresas terceirizadas, a conta não fecha, pois dificilmente o empreiteiro consegue transformar o aumento de produtividade que teria com o equipamento elétrico em redução de custo. “Como não é um equipamento muito disseminado no mercado, as empreiteiras não aceitam trabalhar com um valor menor por metro quadrado realizado”, afirma.

Outro problema que freia a demanda pelo balancim elétrico é o índice de falhas durante o uso em obra. Fornecedores e construtoras relatam que o equipamento é delicado e quebra com frequência quando submetido a operações mais bruscas – ou a erros de operação. “Em fachadas onde o uso do equipamento é bruto, ele apresenta muitos problemas de funcionamento. É um problema cultural, porque o uso dele não é feito corretamente e isso acaba denegrindo a imagem do equipamento no mercado”, diz Newman Avancini, diretor da Andaimes Urbe.

Por isso, o treinamento de mão da obra é indispensável para viabilizar o sistema. Com a mudança da Norma Regulamentadora nº 35 (NR 35), que transfere para as construtoras a responsabilidade pelo treinamento dos operários nos trabalhos em altura, o cenário tende a mudar. Segundo o auditor fiscal da Delegacia Regional do Trabalho (DRT), Antonio Pereira do Nascimento, as fiscalizações nos canteiros já começaram.

De acordo com a nova norma, para que o colaborador seja considerado capaz de operar o equipamento, ele deve ter sido submetido e aprovado em treinamento teórico e prático para trabalho em altura, com carga horária mínima de oito horas. Esse treinamento deve ser renovado em período bienal e também quando houver mudança nos procedimentos ou retorno de afastamento do trabalho por período superior a 90 dias.

Além dos treinamentos, “é fundamental que os gestores dos canteiros realizem um planejamento de execução dos serviços com o uso do equipamento”, explica Pedro Augusto, gestor técnico de obras da construtora Queiroz Silveira. Assim, os problemas causados por sobrecarga de trabalho são evitados.

Entrevista Fábio Luis Garbossa Francisco
Relação com fornecedores

Divulgação: Bko
“O ideal é que, no momento em que a construtora fecha o contrato, ela saiba quanto custa cada peça. Assim, pode alertar os usuários dos riscos de quebra das peças mais caras”
Fábio Luis Garbossa Francisco 
diretor técnico da BKO Incorporadora e Construtora

Alguns locadores transferem às construtoras parte da responsabilidade pelos problemas operacionais dos balancins. O sistema costuma apresentar paradas? 
É um equipamento sensível para a realização dos serviços que ele realiza. A meu ver, há uma falta de acompanhamento das próprias empresas locadoras. Às vezes, elas alugam um equipamento para uma obra e não acompanham o uso. Essas empresas precisam estar mais próximas por meio de fiscais para não deixar que esses problemas tomem volume. Essas ocorrências também são causadas por falta de manutenção. Às vezes, por falta de oferta, não dá tempo de os equipamentos voltarem para as locadoras, eles acabam indo direto de uma obra para outra.

Outro problema muito discutido é a devolução das peças do equipamento. É corriqueiro que as construtoras devolvam o balancim faltando peças ou até com essas peças em más condições? 
Essa é uma briga eterna entre a construtora e as empresas que locam equipamentos em obras. Claro que quando a construtora devolve o equipamento ele está mais desgastado do que quando ela alugou. São problemas provenientes ou do próprio desgaste do equipamento do mau uso feito em obra. E geralmente as empresas que locam os equipamentos querem indenização de tudo. A construtora pega uma peça que tem dez anos de uso, ela quebra por desgaste dentro de uma obra e as locadoras querem que a locatária pague o preço de uma peça nova.

Como resolver esse impasse? 
Com negociações. Mas o ideal é que, no momento em que a construtora fecha o contrato, ela saiba quanto custa cada peça. Assim, ela pode alertar os usuários dos riscos de quebra das peças mais caras.

Instalação, operação e manutenção
O projeto de instalação dos balancins elétricos deve levar em consideração a arquitetura da fachada do edifício, as cargas de trabalho a que os equipamentos estarão sujeitos, os detalhes dos procedimentos sequenciais para a operação de montagem e desmontagem e, ainda, as dimensões e posições de ancoragens. Segundo Antonio Nascimento, é indispensável que os projetos sejam específicos para cada obra, e não adaptados a partir de projetos antigos e/ou similares. “Os projetos dos balancins até podem ser genéricos, mas os de instalação variam de acordo com as condições da obra. As interferências e os sistemas de fixação mudam de acordo com a arquitetura e com o sistema estrutural”, alerta o auditor fiscal.

Durante a montagem, é preciso prever um local adequado para o aterramento elétrico. O motor deve estar em local seguro das intempéries, já que pode atrair correntes elétricas. O projeto do edifício deve prever também locais adequados para fixar a estrutura de sustentação na cobertura, os chamados pontos de ancoragem ou de contrapeso. Esses pontos devem ser facilmente identificados, visando inclusive à manutenção do prédio.

As construtoras têm repassado a responsabilidade de montagem para os próprios fornecedores dos balancins ou até para empresas especializadas nas instalações e desinstalações. Nesses casos, as Anotações de Responsabilidade Técnicas (ARTs) emitidas são de responsabilidade das terceirizadas. “Sempre solicitamos que o técnico de segurança acompanhe essa empresa com objetivo de observar se estão sendo cumpridos todos os requisitos de segurança”, conta Pedro Augusto, da Queiroz Silveira. Além disso, cabe à construtora assegurar que todo trabalho em altura seja realizado sob supervisão.

Durante a operação, é preciso respeitar o limite de peso que as plataformas suportam. Depositar no equipamento somente o material necessário para o uso imediato é um meio de evitar o sobrepeso, que pode causar problemas operacionais nos balancins.

Ao final do dia de trabalho é preciso verificar a integridade dos dispositivos de suspensão e deixar o equipamento limpo, principalmente os cabos, motores e plataformas. Antes de iniciar os trabalhos, alguns itens devem ser checados, como a amarração dos cabos de sustentação, a fixação dos motores, o sistema de sustentação das vigas e os freios de segurança. Os cabos de sustentação, além de limpos, devem ser mantidos lubrificados.

 

Mesa-redonda

Foto: Marcelo Scandaroli Carlos Eduardo Viégas Alves 
engenheiro da área de suporte técnico da Mecan
Foto: Marcelo Scandaroli Marcelo Gomes de Araújo 
gerente de contratos da área comercial da Metax
Foto: Marcelo Scandaroli Newman Avancini 
diretor da Andaimes Urbe
Foto: Marcelo Scandaroli Rui Manuel Ventura Silva 
diretor da Pórtico Real
Foto: Marcelo Scandaroli Ronaldo Max Ertel 
vice-presidente da Associação Brasileira de Empresas Locadoras de Bens Móveis para Construção Civil (Alec)

Como está a demanda e a disponibilidade de balancins elétricos no País? 
Marcelo Gomes de Araújo – Já participei de alguns mercados, como São Paulo, Campinas, Ribeirão Preto e Rio de Janeiro, e notei características diferentes em cada um. Em algumas regiões, a demanda ainda é maior por andaimes fachadeiros. Em outras, os balancins mecânicos já passam a ser substituídos pelos elétricos. Em Goiânia, por exemplo, a demanda ainda é maior por equipamentos mecânicos, tanto que os fornecedores de lá estão quase equiparando os preços dos balancins elétricos e manuais. Por conta disso, acredito que a demanda pelo balancim elétrico tende a crescer.
Carlos Eduardo Viégas Alves – De 2002 para cá, a demanda cresceu, mas varia de região para região. Em Belo Horizonte, a adoção de balancins ainda é um problema por conta do baixo custo do andaime fachadeiro e da alta demanda que se tem por esse equipamento. Já no Nordeste, antigamente, não se viam balancins. Hoje, nós já encontramos. Mas mesmo com os preços caindo, é um equipamento ainda pouco utilizado.
Newman Avancini – Nós atuamos basicamente no Estado de São Paulo e aqui as condições ainda são desfavoráveis para os balancins elétricos por conta do preço elevado e de sua sensibilidade. Em fachadas onde o uso do equipamento é bruto, ele ainda apresenta muitos problemas de funcionamento. É um problema cultural, porque o uso dele não é feito corretamente. O crescimento desse equipamento poderia ser maior principalmente hoje em dia, com a escassez de mão de obra.

É um equipamento utilizado em qualquer tipo de obra? 
Marcelo Gomes de Araújo – Hoje, não. Depende do serviço que será realizado na fachada. Mas, para obras residenciais, a maioria das construtoras ainda opta pelo modelo mecânico.
Avancini – Isso pelas condições de uso e também pela falta de análises de custo-benefício. O raciocínio dos usuários é o seguinte: se o modelo mecânico custa metade do preço de um elétrico, o elétrico tem de render o dobro para compensar. Eles não levam em consideração a segurança, o conforto e a produtividade com o uso do modelo motorizado. Esses são benefícios que nunca são tabulados. Por isso, os equipamentos que trazem esse tipo de benefício encontram dificuldades de ingressar no mercado.

O Newton Avancini comentou que é um equipamento sensível a quebras. Qual é o problema: os trabalhos de fachada não são compatíveis com os balancins elétricos ou há uma defasagem na tecnologia do equipamento, que poderia ser melhorada?
Rui Manuel Ventura Silva – Em minha opinião, é um conjunto desses dois fatores. É um equipamento sensível e, ao mesmo tempo, quem usa quer aproveitar ao máximo sua produtividade. Se com o mecânico ele faria 1.000 m² por dia, com o elétrico ele quer fazer 2.000 m² e não quer saber de cuidar do equipamento no fim do dia. Se o operário não limpar o balancim e não tomar cuidado para evitar que caia material nos cabos de sustentação, na plataforma e até no motor, o equipamento vai começar a dar problemas e vai parar em obra.
Alves – Os balancins [antigos] tinham uma área de trabalho muito grande. Já os modelos atuais têm uma largura menor. Algumas pessoas questionam isso porque, dependendo da produtividade, não dá para ficar transportando material para fazer o serviço todo [ao longo da fachada]. Nos balancins antigos, preparava-se até a argamassa na plataforma.
Silva – Por isso dizem que as bombas projetoras não funcionam nele. Não funcionam porque elas dão um rendimento muito maior do que chapar a massa com a mão. Quando a obra opta pela projeção, os operários querem render três vezes mais, não aplicam a argamassa corretamente, espirram massa nos cabos e nos motores e, no fim, o equipamento dá problema.

“A substituição dos andaimes pesados vai ser muito difícil. As locadoras não têm estoque. A quantidade de balancins leves de cabo passante que existe hoje no mercado é insignificante”
Rui Manuel Ventura Silva 
diretor da Pórtico Real

A mudança da NR 35, que transfere para as construtoras a responsabilidade pelos treinamentos dos funcionários para trabalhos em altura, pode mudar esse cenário? 
Alves – Essa mudança entrou em vigor em março. Está muito recente para conseguirmos sentir se já afetou a rotina das construtoras ou não. Ela só será sentida quando a fiscalização apertar. Pelo menos em Minas Gerais, pelas reuniões das quais participo, o comentário é de que as construtoras ainda estão paradas com relação ao assunto.
Avancini – Algumas construtoras já começaram a se mobilizar.
Araújo – Outro fator que dificulta a adoção desses balancins são as exigências de hoje em dia. É preciso toda uma documentação do equipamento, engenheiros responsáveis pelo seu funcionamento, projetos específicos com memórias de cálculo, laudo de aptidão para o trabalho em altura etc.

E na NR-18, houve alguma mudança significativa para os balancins elétricos? 
Alves – A portaria 201/2011 [da Secretaria de Inspeção do Trabalho] chamou mais atenção para a parte de sustentação desses andaimes. Ela prevê a obrigatoriedade de projeto, Anotação de Responsabilidade Técnica (ART), memória de cálculo. Antigamente, não havia esse cuidado na gestão.
Avancini – A norma está ficando cada vez mais rígida e chamando atenção para os cuidados de especificação, de projeto e até de fixação, que é um ponto muito importante. Uma coisa é o equipamento, outra é a obra. Na hora de instalar o balancim em determinada obra, é preciso que haja uma pessoa habilitada e responsável por essa instalação. E muitas vezes a construtora acaba confundindo isso. Ela acha que o projeto é da máquina, e não da obra.

Mas mesmo os projetistas da edificação também têm que saber qual equipamento vai ser usado na obra, para que prevejam os pontos de ancoragem dos balancins, não? 
Silva – Sim. Até porque futuramente esse prédio vai precisar passar por manutenção, por isso os pontos de fixação devem ser saudáveis. O risco maior que existe com o uso desse equipamento são as condições de fixação do prédio, e isso é de responsabilidade da engenharia civil, e não nossa.
Alves – Quem vai dar a liberação do ponto de ancoragem para a carga é a obra. Se a construtora indicar um ponto errado, a responsabilidade é dela. Outro cuidado que se tem de ter em projeto é saber qual é o modelo de balancim que será adotado para, então, realizar o projeto de instalação. É preciso que o equipamento tenha interligação com a obra, e isso muda de projeto para projeto arquitetônico.

A perspectiva de restringir o uso do andaime pesado para edificações de até oito andares deve aumentar o mercado dos balancins mecânicos e elétricos? 
Silva – Em uma das reuniões de que participo, esse foi um assunto discutido por um construtor: a substituição desses andaimes pesados vai ser muito difícil. As locadoras não têm estoque para isso. A quantidade de balancins leves de cabo passante que existe hoje no mercado é insignificante.
Alves – Mas é uma mudança que deve acontecer. O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) vai restringindo o uso até que em algum momento ele fique tão inviável que os construtores vão preferir o modelo mecânico.
Araújo – Essas mudanças têm aumentado inclusive a nossa responsabilidade como locadores. As montagens, desmontagens e remanejamentos dos equipamentos, por exemplo, têm sido cada vez mais repassadas para nós.

“A norma [NR-18] está ficando cada vez mais rígida e chamando atenção para os cuidados de especificação, de projeto e até de fixação, que é um ponto muito importante”
Newman Avancini 
diretor da Andaimes Urbe

Mas esse modelo em que a construtora contrata um pacote fechado, com montagem e desmontagem, não seria melhor para os locadores, já que eles acompanham de perto a instalação de seus equipamentos? 
Alves – Tem sido melhor, mas a mão de obra na operação ainda precisa mudar. Já tivemos casos em que os operadores inabilitaram o funcionamento do blockstop da máquina [dispositivo de parada de emergência] só para que o balancim não desse trabalho quando a inclinação aumenta. É o trabalhador sem consciência do que está fazendo.
Ronaldo Max Ertel – Além dos problemas de operação, nos deparamos também com alguns inconvenientes na hora de receber os balancins de volta. Muitas vezes, recebemos o equipamento com peças faltando ou até fora das condições de uso. O principal problema que tenho tido em obra é com relação à devolução do equipamento.
Araújo – E quando fechamos o pacote completo, com montagem, manutenção, remanejamento e desmontagem, as construtoras jogam para as locadoras toda essa responsabilidade.

Mas esses pormenores – condições da máquina na devolução, por exemplo – não devem estar especificados em contrato? 
Silva – O contrato diz que o usuário deve pagar [pelos danos e perdas], porque a guarda do equipamento é dele.
Ertel – O que acontece é que as construtoras querem considerar a depreciação do equipamento. Eles acham que, porque receberam o equipamento usado, não devem pagar por uma peça nova. Querem que coloquemos, no preço a ser acertado, a depreciação da peça perdida. Se o valor da peça é de R$ 70 mil, quando conseguimos negociar bem, recebemos R$ 25 mil.